Tuesday, December 19, 2023

 billy corgan canta docemente em teu ouvido

será possível que nada arrefece este peito?

mantenha sempre o corpo quente

as desculpas do amanhã ainda virão

para nos enganar mais uma vez

nos tirar da cama logo cedo

entre crises de ansiedade dentro dos lençóis

guardo minha mão no peito 

e começo reza embaralhada,

perdida na ladainha,

nos pensamentos em santos

e em crianças que andam pela casa

amanheceu e o tempo insiste em não passar

daqui uma semana encheremos as ruas de esperança

que ao menos as ruas se encham de esperança,

sentimento intocável dentro destes lençóis,

em todas vezes que os olhos desgrudam no meio da noite.


EXILADO(S)

 eu pedi pra você ficar

e contar alguma coisa

que eu precisasse saber

pedi pra você ficar

fumar um cigarro,

tomar mais uma taça de vinho

ia até abrir o italiano que me trouxeram

eu mesmo nunca fui à Itália,

nem sei como é lá.


eu pedi pra você ficar

pra gente ouvir juntos

o exile ou o let it bleed

let it be então;

eu só pedi pra você dormir aqui

e acordar sem maquiagem

sem roupa

sem medo.

Monday, November 20, 2023

Março

 o santo podia vir mesmo pra me ajudar

mas me diz então, pra que santo vou rezar

arrepiar-me no meio da tarde

igual naquele sonho que tu tiveste

anos atrás:


[senhorinha entra na sala

chão de terra batido, senhorinha tão pequena roda

senhorinha roda, o tambor cresce, a poeira sobe

senhorinha vira gente grande, gente brava,

senhorinha reza e roda e roda e reza

até que seus cabelos caem na cara


o resto do sonho não lembro

mas te vi na frente da porta com medo de entrar]


o santo podia vir mesmo pra me ajudar

senhorinha pequena vira gente grande de novo

arrasta este teu medo pelos cabelos

até que caiam em tua cara

arrepio imenso de um só continente

tudo refletido em teus olhos


o medo, o santo, a senhora.

Wednesday, November 08, 2023

Prosa I

 Um preto velho certa vez me disse para parar de fumar. Eu já nem fumava mais e era quaresma. Pretos velhos não descem na quaresma. Tua voz me fugiu há um tempo. Reencontrei-na em algum sítio da internet. Tu me fizeste chorar em uma noite de sábado. É véspera do meu aniversário; não do Carlos. Disseram-me numa vez que Drummond fazia anos perto de mim. Era verdade que Carlos fazia aniversário quase que no começo do penúltimo mês. Sei que existem pessoas que se arrependem de me conhecer. Também arrependo-me de tê-las conhecido. 

Estou tentando escrever prosa. É um projeto do qual ninguém se apoia. É difícil falar com os outros agora. É difícil estar vivo. Talvez fosse mais fácil viver a vida no litoral. Longe de toda a opressão do centro político. Estar perto do poder não nos dá poder. Estar perto do poder nos deixa deprimidos. Talvez por não ter. Está escuro e antes que os dentes comecem a escapar pela boca, ele se cala. Põe-se a lembrar de tempos outrora vencidos. Porém mal resolvidos. Com tanta gente, com gente de agora. 

Uma vez disseram-me que estava perdido. Eu nunca me achei, apenas em refrões de canções que poucos escutam. Portanto, de verdade nunca me encontrei. Um projeto falido de tudo aquilo que julgavam estar certo. Certa vez li Sartre pela metade. Era um livro todo rabiscado por criança faminta em desenvolver suas habilidades artísticas. 

Desenvolvi o dom de afastar tudo aquilo que potenciavelmente poderia me recompensar com amor. Talvez nunca espere isso realmente de outras pessoas. É um choro vencido, sem ouvidos a este grito, sem ouvidos a tudo isso que de repente brota em nossa mesa. Estragando o próximo café da manhã; bem na porra da véspera de um aniversário. 

Wednesday, May 24, 2023

Voltamos

 10 anos depois.

Wednesday, December 11, 2013

Acabou!