Wednesday, November 08, 2023

Prosa I

 Um preto velho certa vez me disse para parar de fumar. Eu já nem fumava mais e era quaresma. Pretos velhos não descem na quaresma. Tua voz me fugiu há um tempo. Reencontrei-na em algum sítio da internet. Tu me fizeste chorar em uma noite de sábado. É véspera do meu aniversário; não do Carlos. Disseram-me numa vez que Drummond fazia anos perto de mim. Era verdade que Carlos fazia aniversário quase que no começo do penúltimo mês. Sei que existem pessoas que se arrependem de me conhecer. Também arrependo-me de tê-las conhecido. 

Estou tentando escrever prosa. É um projeto do qual ninguém se apoia. É difícil falar com os outros agora. É difícil estar vivo. Talvez fosse mais fácil viver a vida no litoral. Longe de toda a opressão do centro político. Estar perto do poder não nos dá poder. Estar perto do poder nos deixa deprimidos. Talvez por não ter. Está escuro e antes que os dentes comecem a escapar pela boca, ele se cala. Põe-se a lembrar de tempos outrora vencidos. Porém mal resolvidos. Com tanta gente, com gente de agora. 

Uma vez disseram-me que estava perdido. Eu nunca me achei, apenas em refrões de canções que poucos escutam. Portanto, de verdade nunca me encontrei. Um projeto falido de tudo aquilo que julgavam estar certo. Certa vez li Sartre pela metade. Era um livro todo rabiscado por criança faminta em desenvolver suas habilidades artísticas. 

Desenvolvi o dom de afastar tudo aquilo que potenciavelmente poderia me recompensar com amor. Talvez nunca espere isso realmente de outras pessoas. É um choro vencido, sem ouvidos a este grito, sem ouvidos a tudo isso que de repente brota em nossa mesa. Estragando o próximo café da manhã; bem na porra da véspera de um aniversário.